DICA CULTURAL HOMENAGEIA GUARACI ADEODATO E RECOMENDA ‘BAHIA DE TODOS OS POBRES’

Livro teve primeira edição publicada em 1979 com o selo do CEBRAP

Os Cadenos do CRH, publicados a mais de 30 anos, são apenas uma das marcas indeléveis da dedicação da professora Guaraci Adeodato a uma tarefa quase de Sísifo: o deslindar das iniqüidades sociais da Bahia.

A imagem oficial do último número, atualmente na página do centro, mostra porque não podemos filmar in loco a vastidão dos conhecimentos ali organizados e socializados.

Mas bem, voltando a Guaraci, criadora do dito centro da UFBA, cabe antes dizer dois aspectos fundamentais sobre ela: foi a maior demógrafa do Brasil e, talvez, a primeira pessoa a advertir que a pirâmide populacional iria se inverter no Brasil, quando os militares no poder deitavam falação dizendo que o Brasil era (e sempre seria) um país de jovens.

Guaraci, falecida na semana passada sem que quase nenhuma homenagem relevante lhe fosse prestada por nenhum dos meios de comunicação locais (A Tarde registrou até que ela era um ‘professor casado’ [sic], em sua edição da sexta passada), foi além de enunciar, ela anteviu as nefastas conseqüências sobre a Previdência desta inversão, quase ao mesmo tempo de outro grande professor, o demógrafo uspiano Tamás  Szmrecsányi.

É pouco? Vamos voltar alguns anos, antes sublinhando que Guaraci era dessas mestras, que por ser amante do que estudava, passava informações com uma leveza ímpar, sendo difícil lembrar de alguém mais propício a nos ensinar coisas da Bahia (quase até então) oculta.

Sim, leitor@s: até uns 10 anos antes de eu e nossos colegas ativistas termos o imenso prazer de descobrir em palestras de Guaraci no CRH (então em um prédio próximo ao DCE da UFBA), que as mazelas sociais da Grande Salvador tinham razões e causas – ninguém se ocupava disso, nem sequer (metodologicamente falando) os grandes impulsionadores do crescimento da ‘cidade da Bahia’.

Guardem na memória e propalem: em 1971 uma dedicada pesquisadora começa a coletar, embaixo das piores condições externas, as verdadeiras razões da miserabilidade de centenas de milhares de pessoas.  Esses textos, e mais outros, estão reunidos no seminal livro “Bahia de Todos os Pobres”, publicado só em 1979, com o selo do CEBRAP, e prefácio de ninguém menos do que Chico de Oliveira (pelo menos este continua lotando galerias na UFBA ao dizer o que pensa). 

Registrei (como pude) a capa e uma das tabelas do único exemplar existente na UFBA (segundo sua base de dados oficial), para que vocês possam, a qualquer momento, devorar essa obra em qualquer sebo (ou sugerir que a própria universidade a republique, para ontem). E claro, verificar a qualidade dos Cadernos do CRH, expostos em vários eventos culturais pela Bahia afora e adentro.
A mim, resta agradecer ter convivido (um pouco) com uma dessas intelectuais que não se ‘produzem’ mais.

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